Objetivos |
Presentemente, a humanidade enfrenta um conjunto de desafios ambientais, sociais, culturais, e económicos, que colocam em risco a satisfação das necessidades de gerações futuras. A finitude dos recursos planetários exige que o desenvolvimento das sociedades ocorra de forma sustentável.
Um consenso crescente afirma que as ciências comportamentais necessitam de fazer contribuições mais significativas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Recentemente, para esclarecer sobre as experiências subjetivas de pró-sustentabilidade e de resistência-à-sustentabilidade, foi desenvolvido o modelo de Envolvimento/Não-envolvimento com o Desenvolvimento Sustentável (EDSD; (Moreira et al., 2020;) Moreira et al., 2022). O EDSD postula que o Envolvimento e o Não-envolvimento são estados internos distintos (dimensões cognitivas-emocionais-comportamentais separadas) emergentes de processos psicobiológicos. É importante ressaltar que estados de Envolvimento/Não-envolvimento são: holístico (promove/dificulta resultados em todas as dimensões do DS - ambiental, sociocultural, económico) e maleável (Moreira et al., 2022). Assim, as ciências comportamentais podem informar políticas sobre como atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) ao (1) identificar e explorar os mecanismos psicológicos autorregulatórios que promovem o envolvimento e a ação pró-sustentável, e (2) ao investigar o papel do bem-estar subjetivo na relação entre os mecanismos autorregulatórios e o envolvimento e a ação pró-sustentável.
As Fundações Morais, devido ao seu papel regulador no sistema comportamental, têm sido implicadas nas perceções/julgamentos/tomada-de-decisão que levam à ação pró-sustentável. A Teoria das Fundações Morais (Graham et al., 2011; Iyer et al., 2012; Atari et al., 2022) postula que sete Fundações Morais – módulos cognitivos inatos que evoluíram para resolver dilemas cooperativos – têm sido centrais para a sobrevivência individual (motiva a proteção física e psicológica) e do grupo (motiva a coesão e a ordem). Estudos mostram que os Fundações Morais influenciam as atitudes em relação ao aquecimento global (Graham et al., 2011), as normas para lidar com as alterações climáticas (Jansson & Dorrepaal, 2015), a motivação para fazer mudanças de estilo de vida pró-sustentáveis (Dickinson et al., 2016) e o consumo amigo do clima (Vainio et al., 2016).
Curiosamente, um construto psicológico que tem sido associado tanto à pró-sustentabilidade como à moralidade é o bem-estar subjetivo. Proeminentemente, o bem-estar subjetivo tem sido definido como o grau em que se experiência subjetivamente a vida de forma positiva ou negativa e tem sido operacionalizado através de componentes afetivos (positivos e negativos) e sociocognitivos (por exemplo, satisfação com a vida) (Diener et al., 2018). Uma vez que a sobrevivência e o bem-estar humanos dependem dos ecossistemas e o bem-estar impulsiona uma ação pró-sustentável, o bem-estar está a ser reconhecido como um dos indicadores-chave do DS (O’Mahony, 2022). De facto, estudos mostram uma associação entre bem-estar e comportamento pró-ambiental (Capstick et al., 2022; Ibáñez-Rueda et al., 2020; Zawadzki et al., 2020), conectividade com a natureza (Capstick et al., 2022) e contato com a natureza (Liu et al., 2022). A interdependência entre sustentabilidade e bem-estar é ainda reforçada pelo facto de ambos estarem carregados de valor moral (O’Mahony, 2022). Por isso, diversos investigadores (O’Mahony, 2022; Narvaez, 2010; Painter-Morland et al., 2017) enfatizam a necessidade de se esclarecer as complexas interações entre moralidade, bem-estar e pró-sustentabilidade.
Grandes desafios atuais
Fundações Morais
A Teoria das Fundações é um dos maiores marcos no estudo da moralidade, primeiro pela incorporação de perspetivas evolucionistas para a explicação dos processos psicológicos que impelem a cooperação, e segundo pela sua extensão do domínio moral (indo para além do cuidar e justiça). Apesar dos enormes avanços observados nas últimas duas décadas, a investigação ao nível das fundações morais tem sofrido de algumas limitações ao nível da mensuração, e por estar circunscrita ao domínio da Psicologia Política. De seguida, serão descritos alguns dos principais desafios na literatura.
O instrumento primordial de aferição das diferenças individuais em fundações morais é o Questionário de Fundações Morais-30. Apesar de ser um dos mais populares na Psicologia Moral, o QFM-30 sofre de várias limitações.
Apesar do reconhecimento que as fundações morais têm recebido como mecanismos de agência pessoal, altamente capazes de induzirem comportamentos, atitudes, e crenças, nada se sabe sobre o papel que estas exercem sobre o bem-estar.
Apesar das evidências já existentes de que Fundações Morais estão associados com determinados aspetos da sustentabilidade - e que sugerem o enorme potencial destes constructos para a compreensão da ação pró-sustentável - a literatura atual é limitada por diversas razões.
Nenhuma investigação examinou as diferenças individuais no Bem-Estar como fator que influencia as interações entre Moralidade e Envolvimento/Não-envolvimento com DS.
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